Você sabe o que é uma tiny house? Pois antes de caçar um dicionário de português/inglês ou um tradutor online por aí, a gente adianta o serviço por aqui: o significado é “casa minúscula”. 

Mas engana-se quem pensa que estamos falando simplesmente sobre um tipo de moradia. Ter uma propriedade como essa significa fazer parte de uma filosofia. E para te contar tudo a respeito desse assunto, conversamos com Robson Lunardi, uma das pessoas responsáveis por trazer esse movimento para o Brasil.

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O que é tiny house?

Em termos práticos, uma tiny house é uma casa muito pequena, minúscula, como já mencionamos, de até 37 m2. Porém, mais do que isso, ter esse tipo de moradia significa conjugar filosofias e valores como, entre outros:

  • Minimalismo;
  • Liberdade;
  • Sustentabilidade;
  • Consumo consciente;
  • Espaços multifuncionais;
  • Economia colaborativa;
  • Contato com a natureza;
  • Mobilidade

Sobre este último item, sim, é isso mesmo que você leu: mobilidade. E vamos te explicar o porquê disso logo aqui abaixo. 

Tipos de tiny houses

De acordo com Robson, são três os tipos de tiny houses:

Tiny House fixa

Apesar de a filosofia das tiny houses pregar em especial valores como liberdade e mobilidade, esse tipo de construção também pode ser feita de uma forma definitiva. Mas, ainda assim, manter outras características do movimento, como minimalismo (que prega o desapego ao que não está em uso), sustentabilidade, entre outros.

As tiny houses fixas são aquelas construídas em um terreno, com fundação, o que faz com que as pessoas proprietárias tenham um endereço fixo e precisem, por exemplo, pagar o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU).

Casas sobre rodas

Essa modalidade se dá quando a casa é construída em cima de um chassi, como é a casa de Robson e Isabel, que você irá conhecer mais adiante. Ou seja, apesar de ter as características de uma casa, ela é, na verdade, legalizada como um veículo. E é aqui que está o “pulo do gato” a respeito da mobilidade que comentamos mais acima.

Foto que ilustra matéria sobre tiny house mostra uma estrutura de uma casa construída em cima de um chassi com seis rodas, três de cada lado, e uma estrutura para reboque.
Casa sobre rodas (Foto: Shutterstock)

Com uma casa sobre rodas, você pode ter uma casa em uma praia no verão e simplesmente transportá-la para uma região de serra para curtir o inverno.

Além disso, como esclarece Robson, uma tiny house sobre rodas se encaixa em uma área cinzenta na qual não precisa pagar IPTU ou mesmo IPVA, que é o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores. 

Afinal de contas, a casa não tem um motor, ao contrário de um motorhome, por exemplo. Ela precisa apenas estar de acordo com o que determinam órgãos como o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO) e a Secretaria Nacional de Trânsito (SENATRAN), anteriormente Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN), no que diz respeito a medidas e sinalizações para o trânsito em vias públicas, como acontece com os trailers.

Tiny House transportável

É um tipo de mini casa que é construída sem fundação, como as que usam contêiner como base, por exemplo. Ela é transportável, pois pode ser içada e colocada em um caminhão para ser levada a outra localidade. Mas, ao contrário das tiny houses sobre rodas, não pode ser legalizada como um veículo.

Foto que ilustra matéria sobre tiny house mostra uma pequena casa em formato retangular, com muitas árvores atrás.
Esse tipo de tiny house, feita em uma estrutura de contêiner, pode facilmente ser içada e transportada por um caminhão para qualquer lugar (Foto: Shutterstock)

Ou seja, uma tiny house sobre rodas, necessariamente, é transportável, pela própria característica. Mas nem toda tiny house transportável está sobre rodas.

As diferenças essenciais entre as duas estão, justamente, na legalização e na mobilidade. Uma casa sobre rodas pode sair de um dia para o outro do lugar onde está. Já uma casa transportável, mesmo que tenha rodas, caso não esteja legalizada como veículo não pode transitar pelas estradas. E a depender da legislação municipal de onde está localizada, muito provavelmente precisa pagar IPTU. 

Quanto custa uma tiny house no Brasil

Segundo Robson, uma tiny house pode variar muito de preço, a depender do nível de complexidade do projeto. Os valores podem variar entre:

  • Fixa: de R$ 50 mil a R$ 400 mil
  • Transportável: de R$ 80 mil a R$ 400 mil
  • Sobre rodas: a partir de R$ 90 mil

O especialista explica que as casas sobre rodas partem de um valor mais alto porque é preciso comprar e regularizar o chassi, ou seja, a estrutura com rodas onde a casa será construída. 

Movimento Tiny House: forçado pela necessidade

Mas antes de entrarmos em mais detalhes físicos das tiny houses, vamos falar um pouco mais sobre como esse tipo de moradia começou a se popularizar. 

A construção autônoma de pequenas casas começou a surgir nos Estados Unidos na década de 1990. Mas foi em 2008, com a grande crise que abalou mercados no mundo todo – iniciada justamente em território estadunidense, por conta da especulação imobiliária que causou um aumento abusivo nos preços dos imóveis –, que o movimento ganhou tração. 

As tiny houses se popularizaram inicialmente não por filosofia, mas por necessidade. Por conta da explosão da bolha imobiliária, que causou a crise de 2008, milhares de pessoas perderam suas moradias nos Estados Unidos. 

Da noite para o dia, pessoas começaram a morar dentro de carros – o que, inclusive, é proibido por lei – e se viram obrigadas a buscarem alternativas. A construção, pelas próprias mãos, de pequenas moradias começou a se tornar a opção mais viável.

Estilo de vida

Os efeitos da crise trouxeram também, para toda uma geração – a dos millennials –, uma mudança de mentalidade. E os valores e filosofias que listamos acima começaram a se popularizar. 

Além da necessidade para alguns, as tiny houses se tornaram vetores da construção de um novo estilo de vida. 

Quem são os pioneiros das tiny houses no Brasil?

Robson Lunardi nasceu e foi criado em Osasco, na Grande São Paulo. Formado em Estatística pela USP e com pós-graduação em Finanças e Risco pela Fundação Getúlio Vargas, era apaixonado por São Paulo e colecionava promoções em um banco onde trabalhava, em uma ascensão meteórica rumo a cargos executivos de diretoria.

Isabel Albornoz, companheira de Robson na vida e na disseminação da filosofia das tiny houses no Brasil, nasceu em Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul, na fronteira com o Uruguai, e vinha tendo uma carreira de sucesso na hotelaria. Trabalhou em resorts em Pernambuco, depois se interessou por atuar com intercâmbio e se graduou em International Tourism Management, University of Sunderland, na Inglaterra.

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Antes da tiny house, uma big house

Os dois se conheceram em uma festa na casa de amigos em comum em São Paulo e com apenas dois meses de namoro começaram a morar juntos. E experimentaram o crescimento exponencial em suas carreiras. 

Juntos, compraram a tão sonhada casa própria: um imóvel de 167 m2, para apenas um casal à época, que de tanto trabalhar mal aproveitava tanto espaço. 

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Do burnout à tomada de consciência

Quase de forma simultânea, em 2013, ambos experimentaram a Síndrome do Burnout, também conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional, com sequências de afastamento do trabalho. 

Por recomendação médica, começaram a desacelerar. Tornaram-se praticantes de yoga, meditação e acupuntura e tiveram o filho João Pedro, em 2015, quando também criaram o Pés Descalços, um “portal para quem busca eliminar excessos da vida e se inspirar em histórias e experiências de pessoas que decidiram ir em busca de uma vida simplificada, livre e intencional”.

Pesquisa de campo nos Estados Unidos

O portal e o novo estilo de vida que vinham implementando foram o início da mudança que levou o casal a despertar seu interesse para o movimento das tiny houses. O próximo passo seria uma pesquisa de campo nos Estados Unidos. 

Foto que ilustra matéria sobre tiny house mostra um homem - Robson, o entrevistado da matéria - fazendo uma selfie apontando para uma pequena casa sobre rodas atrás dele.
Robson fazendo sua pesquisa de campo nos EUA (Foto: Arquivo pessoal)

“Conseguimos abrir mão de tudo e mudar a nossa vida por volta de 2017. Foi quando eu pedi demissão do meu emprego. A Isabel já tinha parado de trabalhar e nós decidimos fazer uma viagem para os Estados Unidos, onde ficamos por um mês, onde fizemos treinamentos, nos hospedando em tiny houses, visitando fabricantes, entrevistando moradores, pessoas envolvidas na economia colaborativa e adquirindo o máximo de conhecimento possível”, revela Robson.

Araraúna, a primeira tiny house brasileira

De volta ao Brasil, Robson e Isabel começaram a pesquisar fornecedores e, em 2018, conseguiram um espaço no sítio de um amigo, que acabou se tornando a base para a construção da Araraúna, a primeira tiny house brasileira.

“Em um churrasco com amigos de escola, comentei que tinha conseguido uma pessoa para fazer o chassi, que é a base da tiny house, mas não estava conseguindo alguém que nos ajudasse a efetivamente construir a casa. Precisávamos de alguém com experiência em construção. E nesse bate papo um amigo falou que tinha um sítio, que estava sem caseiro e que a gente poderia morar lá enquanto eles nos ajudavam a fazer essa experiência de construir a casa”, conta Robson.

Em quase um ano e meio de trabalho, Robson e Isabel construíram a Araraúna com as próprias mãos, praticamente sozinhos, contando com ajudas pontuais.

No pequeno corredor de uma Tiny House, um homem e uma mulher - Robson e Isabel - com seu casal de filhos posam sorridentes.
Robson, Isabel, João Pedro e Lara dentro da Araraúna (Foto: Arquivo pessoal)

“Demoramos mais ou menos um ano e três meses para construir a Araraúna porque nós não fazíamos somente isso. A gente tinha trabalho, família, fazia nos momentos em que dava para levar o nosso filho para o interior, porque um dos objetivos era ele estar junto para a gente poder passar esse conhecimento para ele. Então, muitas vezes a gente trabalhava por um fim de semana. Algumas vezes conseguíamos uma semana inteira. Mas se juntarmos todas as horas de trabalho, praticamente todo feito por mim e pela Isabel, seria o equivalente a sete meses para a construção da casa. Isso, novamente, com apenas duas pessoas trabalhando”, lembra Robson.

A Araraúna tem 27 m2 de área e todo o espaço que um casal – que um dia morou sozinho em uma casa de 167 m– precisava à época, mesmo já com um terceiro membro da família. Tudo isso por conta da filosofia do minimalismo. Hoje em dia, a família conta ainda com a Lara, de 4 anos, filha mais nova do casal.

E o sítio, localizado em Porangaba, no interior de São Paulo, foi o ponto de partida para o início do movimento e se tornou a Tiny Houses Brasil, uma empresa facilitadora que projeta, constrói e presta consultoria para a construção de mini casas.

Fotos da construção de uma tiny house

Veja algumas fotos, do acervo pessoal de Robson e Isabel, da construção da Araraúna.

Tiny house: fotos do interior

E aqui alguns detalhes do interior da casa de Robson e Isabel.

Imagens de tiny houses pelo mundo

Muitas formas de se ter um novo lar

Como você viu por aqui, o movimento Tiny House é uma das muitas formas de moradia que você pode ter, voltada para a filosofia do minimalismo e para a mobilidade. 

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